
Jack Kirby foi provavelmente o criador de BD mais influente de sempre. Faria 100 anos em 2017.
A exposição pretendeu ser uma mostra abrangente da sua carreira, dos anos 30 à sua retirada nos anos 80, percorrendo a evolução artística e autoral de Kirby e os diversos editores e parceiros criativos que conheceu durante esse período.
Joe Simon e Stan Lee são certamente os colaboradores de Kirby que o grande público mais conhece. No caso específico de Lee, a exposição visou desmistificar o peso criativo deste nas suas parcerias com Kirby, não esquecendo porém a importância mediática que Stan Lee teve na popularização dessas criações. Igualmente marcante na carreira de Kirby foram os inúmeros arte-finalistas que deram tinta aos seus lápis e que contribuíram de uma forma ou de outra para o visual artístico do criador que foi apelidado de “O Rei”, destacando-se neste campo os nomes de Joe Sinnott e Mike Royer.

A obra de Kirby é marcada pela imaginação, pela visão quase demiúrgica com que abraçava os seus projectos. Poucas vezes a expressão “larger than life” se aplicou tão bem como às centenas de personagens marcantes a quem Kirby deu vida. Mas a imaginação de Kirby, paradoxalmente, tem raízes terrenas. Cruelmente terrenas, diria. Jack Kirby cresceu numa Nova Iorque imersa na Grande Depressão. Trabalhou, lutou no duplo sentido da palavra. Conheceu provações. E é esse Jack Kirby, alistado durante a 2ª Grande Guerra, que conhecerá os piores horrores no teatro de operações europeu. Não admira assim que as criações de Kirby representem de forma ímpar os grandes arquétipos do Bem e do Mal. Ao brilho da sua imaginação sempre se contrapôs a crua realidade. À luz de Kirby sempre se oposeram as trevas que o próprio vivenciou e que nunca se refreou de usar nos seus universos autorais.
Foi essa dualidade que pretendi que fosse transmitida na cenografia da exposição; uma dualidade, porém, que longe de se isolar entre si, antes se mesclava, se complementava. Em traços gerais, a luminosidade e cenografia da mostra estariam divididos em dois:
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De um lado, o da Luz, o enfoque estaria nas criações heróicas de Kirby, do Capitão América dos anos 40, aos heróis de guerra e comics de romance das décadas seguintes, até ao ápex criativo dos anos 60 e 70 – primeiro com os heróis da Marvel como o Quarteto Fantástico, Thor, Hulk, Avengers e X-Men; depois com a criação do mítico Quarto Mundo na DC Comics, onde assumiu finalmente o controlo (quase) total sobre as suas criações. Esta parte irradiaria brilho e a cenografia das paredes e do chão representaria as mais míticas criações divinas de Kirby, nomeadamente os reinos dos Deuses benignos como Asgard ou New Genesis.

- Do outro lado, o das Trevas, numa transição gradual e sem fronteiras, os mundos e personagens negras e tenebrosas imaginadas por Kirby. Meia-luz, zonas quase na penúmbra, o chão moldado como as crateras flamejantes de Apokolips (o planeta distópico do tirânico deus Darkseid, que dedica a sua existência à busca incessante da Equação Anti-Vida). Neste segmento da exposição destacar-se-iam os grandes vilões que Kirby criou: o referido Darkseid, o super-soldado nazi Caveira Vermelha, o supremacista mutante Magneto, Galactus o devorador de mundos, e muitos outros produtos inesquecíveis da mente do Rei.

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