Por Mário Freitas
Muito antes de ser proprietário da Kingpin Books e de vender comics e figuras, já era leitor e coleccionador. Porque sempre fui e sempre serei um fã, acima de tudo. E é por isso que tenho assim todo o gosto em partilhar convosco a minha colecção de Funko POPs.
Como saberão, os POPs surgiram em 2010, mas foi só em 2011 ou 2012 que os comecei a vender na loja. E lembro-me por alto que os primeiros terão sido os de Walking Dead, uma série então no pico da popularidade.
Desde o início, adorei o design das figuras e das caixas, e senti logo que estava ali uma fórmula de sucesso. Mas não sei dizer com absoluta certeza quando me senti atraído a tornar-me eu próprio um coleccionador. Talvez tenha sido quando começaram a surgir POPs relacionados com um certo aracnídeo…
1 – Spider-Man (Homem-Aranha) e a sua galeria de vilões
Estávamos em 1978 e a RTP começava a transmitir, aos domingos à noite, a animação clássica do Homem-Aranha dos anos 60. E o inesquecível genérico de abertura “Spider-Man, Spider-Man, does whatever a spider can” depressa se entranhou em mim. Logo a seguir, a Agência Portuguesa de Revistas começou a publicar a banda desenhada, e tornei-me num enorme fã da personagem para o resto dos meus dias.
Os 15 primeiros números da revista americana The Amazing Spider-Man, iniciada em 1963, introduziram grande parte dos vilões clássicos do herói aracnídeo. E de facto, esta soberba e inigualável galeria de vilões, co-criada por Steve Ditko e Stan Lee, está perfeitamente retratada nos POPs lançados até agora.
Variantes aracnídeas
Ao longo dos anos, o meu (ou talvez nosso) herói, foi vestindo inúmeras variantes do seu fato, algumas das quais no mínimo bizarras. Além de Peter Parker, quem mais se lembraria afinal de meter um saco de papel na cabeça?
Outros Homens-Aranhas
E o que será mais bizarro, então? Ter um super-vilão como o Doutor Octopus a autointitular-se o “Homem-Aranha Superior”, ou uma aranha mordida por um porco radioactivo que se transformou no Spider-Ham? Ao pé disso, um Peter Parker punk-rocker já parece coisa normal.
Aracno-dinamismo!
Homens-Aranhas em poses, o que mais então? E que poses, diga-se, porque estas foram provavelmente as fotos que mais gozo me deram a tirar, ou não houvesse tantas variantes possíveis de ângulos e aproximações. E o Spider-Mobile, vocês conhecem a história dele?
A Corona Motors criou um veículo não-poluente e contratou a Carter & Lombardo para o promover. Foi então que a empresa publicitária abordou o Homem-Aranha para utilizar uma versão “aracnizada” do carro e pô-lo nas bocas do mundo. Embora inicialmente achasse a ideia absurda, Peter Parker acabou por aceitar o repto, dadas as suas clássicas dificuldades financeiras. Porém, dada a falta de experiência de Parker ao volante, escusado será dizer que o bólide acabou no fundo do Rio Hudson, depois de uma batalha com o Mysterio.
Mas descansem! Nem só de Spider-Man vive a minha colecção, como vão ver já a seguir 😉
2 – Jack Kirby, co-criador do Universo Marvel e do Quarto Mundo da DC Comics
Chamaram-lhe The King of Comics (O Rei dos Comics). E não foi por acaso. De facto, entre 1961 e 1970, criou ou co-criou com Stan Lee grande parte das personagens que compõe o que se convenciou designar por Universo Marvel. No início da década de 70, regressou à DC Comics, onde criou a saga dos Novos Deuses e do Quarto Mundo, da qual, e por ora, existe apenas o POP do despótico Darksied.
Independentemente da criação efectiva de cada personagem pertencer a Stan Lee ou a Jack Kirby, uma coisa é certa: a imagem e design de cada personagem é 100% Kirby e foi ele que ditou durante toda a década de 60 o look da Marvel. O seu legado é inquantificável. E incomparável.
3 – Super-heróis clássicos diversos
Esta é daquelas linhas em que cabe um pouco de tudo. Criações que vão dos anos 30 aos anos 80 do século 20, e uma gama de personagens com o cunho de múltiplos autores e diferentes editoras. Ainda assim, prevalecem personagens cuja génesse ocorreu entre as décadas de 60 e 80, ou não fosse esta última aquela que coincidiu com o meu primeiro contacto com a maioria destes ícones.
Muita coisa tem saído, de facto, mas há aquelas que não tiro da cabeça e que adorava ter na colecção. Refiro-me, por exemplo, aos New X-Men de Grant Morrison, publicados originalmente entre 2001 e 2004, e uma das minhas fases favoritas de comics de super-heróis. E até já escrevi umas coisas sobre isso aqui no blog…
4 – Clássicos da minha infância na minha colecção de Funko POPs
A minha colecção de Funko POPs não poderia passar sem algumas das personagens que marcaram a minha infância. Assim, nascido em 1972, assisti no final dos anos 70 e início dos anos 80 a inúmeros filmes e séries que jamais esquecerei, e mergulhei a fundo em vários dos grandes clássicos da BD de então.
Se o mítico marinheiro dispensa apresentações, já O Abismo Negro foi um filme de 1980 da Disney que redundou num enorme fracasso comercial, apesar de toda a campanha promocional em seu torno. Porém, lembro-me de o ter adorado na altura e de ter ficado fascinado com o design das personagens e um certo negrume da história, incomum para os meus tenros 8 anos de então. Revi-o recentemente e, se não enevelheceu propriamente bem, retém muito do arrojo dos conceitos originais.
E devo confessar: arrependo-me amargamente de não ter ficado com os POPs do Astérix e Obélix, quando saíram. Ou ainda os do Dick Dastardly e do Muttley, figuras primeiras da genial animação Wacky Races, da Hanna Barbera. Mesmo com os Estrumpfes, a quem sempre recusarei chamar Smurfs, fiquei-me por duas figuras. Longe vão assim os tempos em que tinha dezenas de figuras de PVC da série, uns míticos bonecos da fabricante Schleich, tão comuns das tabacarias e papelerias dos anos 80.
5 – Hellboy, de Mike Mignola
Meio humano, meio demónio, e invocado pelos nazis em plena 2ª Guerra, a criação de Mike Mignola tornou-se num dos maiores fenómenos da BD americana pós-anos 90. Assim, depois de 3 filmes e milhares de páginas de comics, a saga de Hellboy parece ter finalmente acabado. Mas haverá sempre histórias do passado que continuam por revelar. E por publicar.
6 – Twin Peaks, de David Lynch
Há cerca de 2 anos, a minha colecção de Funko POPs estendeu-se a uma série mítica que marcou a minha entrada na idade adulta. Refiro-me, claro, a Twin Peaks do genial David Lynch. Em 1990, o misterioso assassinato da jovem Laura Palmer dominava a atenção dos fãs de cultura POP, e cabia ao Detective Dale Cooper do FBI deslindar o mistério.
Reavivada em 2018 com uma sequela de 8 episódios, Twin Peaks viu regressar todo um culto em seu redor, alimentando dezenas de teorias sobre o regresso e destino final de Dale Cooper, Laura Palmer e toda um miríade de personagens fascinantes.
7 – Funko POP Asia: Astro Boy, de Osamu Tezuka
Foi criado nos anos 50 pelo “Disney do Japão”, mas, paradoxalmente, a primeira história que li com Astro Boy saiu da cabeça e da mão do mestre contemporâneo Naoki Urasawa. Assim, foi com Pluto, um remake moderno e adulto do clássico O Robô mais poderoso da Terra, que descobri o fascínio e inventividade da criação de Tezuka. E foram precisamente os protagonistas dessa saga clássica que foram escolhidos pela Funko e que mostro já a seguir.
Assim foi. A figura era suposto ser do Mont Blanc, mas foi lançada com a cabeça do Hercules, outro dos heróis da saga cujo lançamento estava previsto para mais tarde. E este erro surreal de produção em massa matou a linha de Funko POPs de Astro Boy, levando mesmo ao cancelamento das últimas figuras previstas.
E pronto! Assim partilhei a minha colecção de Funko POPs. Pelo menos, aquela até ao momento, porque se há coisa que um coleccionador sabe é que não há colecções finitas. Podemos terminar uma linha, mas outra logo se seguirá. Espero que tenham gostado e, sobretudo, que tenham ficado com vontade de saber mais sobre as histórias e as personagens que os Funko POP tão bem retratam.
*Mário Freitas é o fundador e responsável da Kingpin Books, e fã e coleccionador inveterado de BD e Funko POPs.
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