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Por Mário Freitas

Os TOPS de sagas, capas ou criadores sempre foram um tema populares e palco de curiosos debates e sã discussão. O novo que hoje se introduz, dedicado aos 20 maiores criadores de comics a solo, não fugirá decerto à regra, até pela alta subjectividade que um tema assim encerra. Falamos de autores completos da BD americana, que se notabilizaram pela criação, escrita e desenho de parte significativa ou relevante da sua obra.

Se a simples selecção já é por si tarefa bicuda, ordenar tão ilustres criadores mais árduo se torna. Entra aí a opinião pessoal, claro, mas devidamente ponderada por factores objectivos como a profundidade, longevidade e impacto da obra. Com uma única excepção, a seu tempo explicada, tomou-se a opção de excluir autores que brilharam e fizeram carreira nas tiras de jornais. Não contem assim aqui com nomes como Hal Foster, Alex Raymond, Milton Caniff ou George Herriman, para citar apenas alguns dos mais ilustres. Quem serão os 20 maiores criadores de comics a solo? A lista começa já a seguir!

Nº20 – JEFF SMITH

Abrimos este novo top-20 com JEFF SMITH, o criador de uma das maiores sagas de fantasia a que os comics já assistiram. Fortemente insparado na mitologia tolkieniana e publicado entre 1991 e 2004, BONE narra-nos as aventuras e desventuras dos primos Bone, explusos da sua terra graças a mais uma diatribe do incorrigível Phoney, uma espécie de primo Gastão em esteróides.

Toda a saga do Vale assombrado pelo misterioso Senhor dos Gafanhotos é brilhantemente ilustrada por Smith, num preto e branco límpido e num registo narrativo que muito bebe dos mestres Carl Barks e Walt Kelly (Pogo). O humor e o macabro misturam-se em perfeita dosagem e têm talvez o seu ponto máximo nos lacaios do Encapuçado, bastas vezes apelidados de “Stupid, Stupid Rat Creatures!”, uma das frases mais emblemáticas da série.

Mais tarde, Jeff Smith criou RASL, um mercenário especializado no roubo de obras de arte, capaz de viajar entre universos paralelos; até que acaba por mergulhar numa conspiração governamental que envolve as descobertas mais fracturantes do mítico inventor Nicola Tesla. O registo é aqui mais sério que em Bone, mas Smith faz uma transição incólume da fantasia para a ficção-científica, produzindo mais uma obra de enorme solidez que contribui inequivocamente para a relevância do autor americano na história dos comics, modernos e não só.

Nº19 – JEFF LEMIRE

Ao fim de 15 anos, não mais do que isso, o canadiano JEFF LEMIRE é já, provavelmente, o autor norte-americano de BD mais relevante deste século. Um contador de histórias ímpar, o seu traço é falsamente tosco, grotesco na aparência, mas profundo na alma. Autor de produção quase ininterrupta, deu nas vistas com Essex County, onde logo se assume como um genial escritor de personagens reais, com uma obsessão muito particular por hoquistas no gelo reformados ou caídos em desgraça.

Mas desengane-se quem julgue que Lemire se fica pelo “slice of life”. Sweet Tooth e Trililum revelam um Lemire igualmente à vontade na ficção científica e no apocalíptico, nunca perdendo porém o seu cunho pessoal na caracterização das personagens. São elas que movem as histórias de Lemire, são elas que lhe dão a sua aura tão particular.

São demasiadas as obras a solo de Lemire para aqui as esmiuçar devidamente; mas obras como Royal City, Roughneck (editado em Portugal pela Gfloy) ou The Underwater Welder (talvez A obra-prima de Jeff Lemire) são sugestões que aqui faço de olhos fechados. E nem cabem nesta rubrica as múltiplas séries que o canadiano tem escrito para outros desenhadores, como Black Hammer, Descender ou Gideon Falls. Enorme quantidade, elevadíssima qualidade.

Depois disto, se alguns estranharem a posição “baixa” de Jeff Lemire no top, deixo-vos apenas esta pequena revelação: de fora ficaram nomes incontornáveis da BD dita independente ou alternativa, como Seth, Charles Burns, Guy Deslile ou Dan Clowes; e muitos outros que eventualmente vão causar ondas de choque. É a natureza das escolhas, sobretudo de alguém eclético. É esta a marca inequívoca da riqueza histórica da BD americana.

Nº18 – DARWYN COOKE

Darwyn Cooke, o influente criador canadiano, já desaparecido.

Entrou tarde na BD, partiu demasiado depressa da vida. Com a enorme bagagem da animação onde fez antes carreira, o canadiano DARWYN COOKE chegou com estrondo no mundo dos comics, com o magnífico Batman: Ego.

A trama sobre a fractura e dualidade da psique de Bruce Wayne é perfeitamente doseada com um dinamismo ímpar, alicerçado no estilo herdado de Bruce Timm e com claras influências dos mestres Kirby, Eisner e Toth. Incursões em Catwoman e The Spirit cimentaram a sua reputação e prepararam o público para o opus magnum de Cooke: DC The New Frontier.

Uma revisitação de época dos maiores aos mais obscuros heróis da DC, New Frontier é um portentoso tour de force de argumento e desenho e, provavelmente, um dos maiores épicos de super-heróis jamais contado. A prova cabal que a romantização de personagens clássicas não implica, bem pelo contrário, a sua infantilização. À sua maneira, Cooke acaba por representar uma bofetada de luva branca nos horrores pseudo “grim & gritty” que assolaram os comics na década de 90.

Darywn Cooke faleceu prematuramente aos 54 anos. A fase final da sua curta carreira foi dedicada a Parker, a adaptação dos romances policias “hard boiled” de Richard Stark. Uma demonstração final de uma prodigioso ilustrador e contador de histórias. Uma figura que merece, incontestavelmente, outra atenção por parte dos fãs de toda a BD e que bem merece estar entre os 20 maiores criadores de comics a solo .

Nº17 – BARRY WINDSOR-SMITH

Um dos primeiros britânicos a afirmar-se no mercado americano, BARRY WINDSOR-SMITH cedo abandonou as influências Kirbyescas que marcaram a sua estreia. No início da década de 70, e durante os cerca de 3 anos que adaptou com Roy Thomas inúmeras histórias de Conan, assiste-se ao catapultar exuberante de um dos ilustradores mais detalhados e portentosos que os comics já conheceram.

Desiludido com os bastidores da indústria, as duas décadas seguintes marcam uma sabática quase total de BWS, salvo esporádicas aparições em Uncanny X-Men, em duas histórias marcantes de Storm co-criadas com Chris Claremont. É já no início da década de 90 que regressa de forma exuberante com o clássico Wolverine: Weapon X, onde Smith escreve e ilustra a revelação de como o esqueleto de Logan ganhou o revestimento de adamantium.

Segue-se novo afastamento da Marvel e a criação de Archer & Armstrong, para a Valliant de Jim Shooter, o antigo editor-chefe da Marvel e um dos homens mais polarizantes da indústria. Eternamente insatisfeito com qualquer dependência editorial, BWS lança a sua própria antologia, “Storyteller”, onde cria por exemplo Young Gods, uma homenagem a Jack Kirby, e Freebooters, uma paródia a Conan. A ideia abortada de uma “graphic novel” original de Storm, para a Marvel, transforma-se em AdAstra em África, o último trabalho de fundo que o autor inglês publicou.

Para Janeiro de 2021, a Fantagraphics anunciou já a edição de Monsters, um álbum com 360 páginas que Barry Windsor-Smith iniciou há qualquer coisa como 35 anos. Esperemos que seja desta que possamos todos pôr as mãos na prometida obra-prima de um dos maiores desenhadores de sempre e um dos 20 maiores criadores de comics a solo

Nº16 – BILL EVERETT

Bill Everett, cerca de 1940.

Falecido há quase 50 anos, BILL EVERETT será um nome infelizmente desconhecido de muita gente. Trata-se tão só, porém, do criador de Namor, o Príncipe Submarino, um dos dois primeiros super-heróis da Marvel, então Timely, criados em 1939.

Everett foi um criador extraordinário que desde cedo demonstrou estar bem acima da maioria dos seus pares, com um dinamismo narrativo e atenção ao detalhe incomuns para a época. Para além do intervalo da sua passagem pela 2ª Guerra, dedicou boa parte da década de 40 e início da seguinte à sua criação maior, apurando o seu estilo único e enorme versatilidade que o punham à vontade em quaisquer ambiências narrativas.

Durante a década de 50, foi assim um dos principais capistas e ilustradores da Marvel (nessa altura sob a designação Atlas), criando inúmeras obras-primas e contribuindo para os múltiplos titulos de guerra, suspense, romance e até humor da editora de Martin Goodman e Stan Lee. Já na “Marvel Age”, co-cria Daredevil com Stan Lee, mas os seus atrasos crónicos começam a marcá-lo negativamente. O consumo excessivo de álcool causa-lhe profundas intermitências na carreira, e os anos 60 passam com meros e breves fogachos da genialidade de Everett.

No início dos anos 70, torna-se então um quase activista dos alcóolicos anónimos e regressa em grande forma a Namor, reassumindo a escrita e desenho do Submarino. Infelizmente, o vício de anos em tabaco e álcool tinha deixado marcas profundas e a saúde de Everett fragiliza-se e agrava-se, vindo a morrer prematuramente aos 55 anos. Apesar da marca indelével que deixou, fica sempre a sensação que um talento assim estaria destinado a muito, muito mais.


E conhecemos assim as 5 primeiras entradas no top dos 20 maiores criadores de comics a solo! Quem ocupará as 5 posições seguintes? Saibam AQUI!

*Mário Freitas é o fundador e responsável da Kingpin Books, e leitor, estudioso e coleccionador inveterado de BD

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