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Por Mário Freitas

Os TOPS de sagas, capas ou criadores sempre foram um tema populares e palco de curiosos debates e sã discussão. Continuamos hoje o dos 20 maiores criadores de comics a solo, autores completos da BD americana que se notabilizaram pela criação, escrita e desenho de parte significativa ou relevante da sua obra.

Do nº 20 ao 16, atravessámos décadas e gerações de criadores da BD americana. Recordem aqui quem foram eles! E quem serão agora os 5 maiores criadores de comics a solo que se seguem na lista? Aí estão eles, sem mais delongas!

Nº15 – HARVEY KURTZMAN

HARVEY KURTZMAN foi um dos grandes inovadores da BD americana e, provavelmente, o primeiro responsável pela introdução de temas mais adultos nos comics. Em 1950, começou a editar e a escrever Frontline Combat e Two-Fisted Tales, dois títulos da EC Comics que narravam as guerras como elas realmente eram.

Dotado de um apurado estilo cartunesco que conferia um choque agridoce à sensibilidade do leitor, Kurtzman investigava meticulosamente os temas das suas histórias e era extremamente rigoroso na sua planificação. Mesmo quando não era ele próprio a ilustrá-las, fornecia detalhados layouts aos desenhadores de excepção que consigo trabalhavam, em particular Wally Wood, John Severin ou Bernie Krigstein.

Em 1952 cria a mítica MAD!, revista que dirige até 1955. Um contencioso com o director da EC, William Gaines, afasta-o da editora, dedicando-se então a uma multiplicidade de trabalhos de ilustração e editoriais, com destaque para as revistas Trump, Humbug e Help. Esta última incluía, por exemplo, o trabalho do futuro Monty Python, Terry Gillian, e colaborações dos então jovens autores “alternativos” Robert Crumb e Gilbert Sheldon, para quem Kurtzman serviu de mentor. O segmento final da sua carreira é dedicado a Little Annie Fanny, uma BD erótica publicada na revista Playboy com a colaboração de Will Elder, um dos principais ilustradores da MAD.

Kurtzman morre em 1993, deixando um impressionante legado de arrojo e qualidade. Em 1989, cinco das suas obras foram incluídas no top-100 das melhores histórias de sempre, de acordo com o magazine Comics Journal. Em 1988, os Prémios Harvey são criados em sua honra, e, um ano depois, o seu nome é incluido no mítico Will Eisner Hall of Fame. Um dos homens mais importantes de sempre da história da BD americana, esquecido ou desconhecido, porém, pela gigantesca maioria. Dá que pensar; é quase um repto a uma mudança urgente no paradigma da divulgação da BD. À consideração de todos.

Nº14 – JIM STARLIN

Os anos 70 do século passado foram marcados por um profundo psicadelismo narrativo e social que inevitalmente se estendeu aos comics. Entre os Novos Deuses de Jack Kirby, e o Doutor Estranho e a Madonna Celestial de Steve Englehart. emergiu um jovem autor que passaria as quatro décadas seguintes a deambular entre o cósmico e o metafísico.

JIM STARLIN, argumentista inovador e desenhador de fino recorte, começou por revitalizar o Capitão Mar-Vell, uma das personagens até então mais sensaboronas da editora americana. Como grande antogonista na eterna dicotomia entre as energias primordiais da vida e da morte, Starlin cria no niilista THANOS o némesis perfeito do guerreiro Kree e, no fundo, de toda a vida sentiente.

A forma como Starlin retrata Thanos, porém, é tudo menos unidimensional, e o déspota de Titã assume papel relevante na saga de Adam Warlock, a empreitada seguinte do autor americano. O psicadelismo, que aqui e ali adivinha laivos de LSD, é levado ao extremo na demanda de Warlock contra o seu Eu futuro, o temível Magus, mais um tirano galático na senda de Thanos, e uma das marcas clássicas da obra de Starlin.

Já no início da década de 80, o espantoso mas infelizmente pouco conhecido “Metamorphosis Odyssey” é a porta de entrada para Vanth Dreadstar e o seu bando de resistentes à tirania do Lord Papal, outra personagem profundamente marcada pelo Darkseid de Jack Kirby. Não foi certamente por acaso que Starlin viria a escrever Cosmic Odyssey para a DC, uma mini-série que revisita, e bem, os Novos Deuses de Kirby.

Thanos será provavelmente a maior criação de Starlin e aquela que o grande público mais conhece. A solo ou na companhia de outros ilustradores, tem passado boa parte dos últimos 30 anos dedicado à sua personagem maior, da Trilogia do Infinito às outras que se seguiram, mantendo ainda hoje uma qualidade e consistência invejáveis. Como que eternamente revitalizado pela energia cósmica que povoa as suas criações e as suas sagas.

Nº13 – MIKE MIGNOLA

Após uma década passada a apurar a sua arte e narrativa, com passagens pela Marvel e pela DC, MIKE MIGNOLA explodiu na Dark Horse, no início da Década de 90, com a sua grande criação e personagem a que ficará sempre associado: Hellboy.

Fortemente alicerçado nos mitos e lendas do folclore popular de proveniências diversas, Mignola construiu um impressionante universo narrativo coeso que ainda hoje perdura. De Hellboy ao BPRD, do Amazing Screw-On Head a Sir Edward Gray “Witchfinder”, o autor americano criou dezenas de personagens fascinantes, únicas ou bizarras, e sempre sempre com a marca inconfundível do seu traço.

A sua arte é muitas vezes descrita como um Kirby com alto contraste, mas vai muito para além disso. Mignola é um soberbo criador de visuais e ambiências, dotado de um traço cortante e falsamente simples. Só o essencial prevalece com o propósito único de conferir a emoção adequada e o dinamismo visceral que o caracteriza.

Ao longo da história dos comics, os nazis e seus seguidores foram sempre fonte segura de vilania. Raramente, porém, foram retratados de forma tão peculiar como Mignola o fez. Cruéis mas ridículos; ambiciosos mas supersticiosos; puristas mas reduzidos bastas vezes a corpos amputados, cabeças falantes ou hospedeiros simiescos. Porque a melhor forma de retratar ideais assim é sempre através do ridículo.

Continuará a haver novas histórias de Hellboy e BPRD, claro, ou não fosse o passado das personagens fonte inesgotável de novas ideias. Mas Mignola é um autor corajoso: fez o que poucos se atraveram e concluiu de forma inexorável a narrativa do universo autoral que construiu. Uma saga fascinante, de desfecho brutal, mas inevitável. Uma saga imprescindível.

Nº12 – CHRIS WARE

De entre uma leva de excepcionais autores da BD dita alternativa, CHRIS WARE cedo mereceu a minha preferência, pela singularidade absoluta do seu estilo. Se pontes artísticas claras ligam nomes como Dan Clowes, Charles Burns, Seth ou Adrian Tomine, Ware diferencia-se por uma figuração única, uma linha clara perfeita e suave, e uma estilização ímpar da figura humana e do que a rodeia.

Desde Jimmy Corrigan, The Smartest Kid On Earth, a sua narrativa é densa e altamente autobiográfica. Chris Ware é um indivíduo taciturno, pouco dado à socialização, e tal transparece bem nas suas histórias repletas de personagens complexas, complexadas e atormentadas. Tal não deriva porém de situações extremas tão comuns na BD americana, mas tão só daquilo que deriva do quotidiano, da vivência no trabalho, na escola, em casa.

A forma como Ware compõe as suas páginas é absolutamente brilhante, numa variação de formatos de grelha que chega a atingir laivos de minimalismo mínimo, com profundo ênfase no pleonasmo agora usado. A psique das suas personagens expande-se e retrai-se, nas mãos do supremo manipulador narrativo que é Chris Ware, dos raros momentos de felicidade e descompressão aos múltiplos momentos de angústia quase claustrofóbica.

Se Jimmy Corrigan, Rusty Brown ou Lindt são já per si obras notáveis, qualquer que seja o prisma da análise, é com “Building Stories” que Chris Ware cria uma absoluta obra-prima literária, gráfica e narrativa. O trocadilho é real: são as histórias de um prédio; um local onde se constroem histórias. Building Stories, o objecto, é uma caixa de formato enorme onde se incluem diversos comics e graphic novels de formato e dimensão diversos. A ordem de leitura é aleatória e cada peça acrescenta algo ao grande puzzle que é o próprio prédio; habitado por gente comum e até por um singular casal de abelhas que se dedica diariamente às flores de uma das varandas. Porque cada varanda narrativa que Chris Ware concebe tem sempre a sua própria história.

Nº11 – DAVID MAZZUCCHELLI

Fechamos a primeira metade do top com um nome ainda hoje conhecido sobretudo pelo seu notável trabalho com Frank Miller, em Daredevil: Born Again e Batman: Year One. Obras fundamentais, sem dúvida, mas DAVID MAZZUCCHELLI voou depois muito, muito mais para além disso.

Começou por editar a sua própria antologia, o seminal Rubber Blanket onde explora caminhos narrativos incomuns na BD americana, mesmo à luz de outros nomes relevantes dos comics alternativos, como os irmãos Hernandez, que davam já cartas à data. Adapta em seguida, com Paul Karasik, o brilhante City of Glass, romance de Paul Auster, desconstruindo gráfica e narrativamente a obra do consagrado novelista americano.

Embrenhado numa carreira académica na School Visual Arts, em Manhattan, é em 2009 que Mazzucchelli carimba de vez o seu nome na lista dos maiores criadores de sempre dos comics. ASTERIOS POLYP, publicado pela Pantheon, é, de olhos fechados, uma das maiores obras de sempre da BD, de qualquer proveniência. A história de um arquitecto de meia-idade cuja vida muda drasticamente depois do incêndio que destrói o seu apartamento, Asterios Polyp é praticamente A BÍBLIA DA BD. Palavras fortes, sim…

Um portento de escrita e desenho; um tratado narrativo e de teoria da cor; uma masterclass arrasadora de legendagem e design. Em Asterios Polyp, tudo Mazzucchelli faz na perfeição. TUDO faz sozinho. E que pena a sua obra ser tão reduzida; porque há 11 anos que nada publica; e depois de uma obra-prima assim, fica sempre a dúvida, a água na boca: até onde poderia Mazzucchelli continuar a inovar? Até onde mais chegaria? Uma coisa é certa: a uma posição certamente bem mais alta que aquela que aqui reservei no top dos 20 maiores criadores de comics a solo.


E conhecemos assim mais 5 entradas no top dos 20 maiores criadores de comics a solo! Quem ocupará as 5 posições seguintes, entrando assim no Top-10 dos maiores de sempre? Saibam aqui quem foi!

*Mário Freitas é o fundador e responsável da Kingpin Books, e leitor, estudioso e coleccionador inveterado de BD

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