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“Visto passados 15 anos, os efeitos visuais continuam muito bons e, ao contrário dos filmes de super-heróis actuais, a fotografia tem cores vibrantes, onde se destaca naturalmente o vermelho da personagem principal.”

Vermelho no cinema e na escuridão.

Por FERNANDO DORDIO *

Para celebrar as vinte e cinco primaveras de Hellboy, nada melhor do que viajar pelo seu percurso cinematográfico que começou em 2004, quando a personagem completava a sua primeira década de existência.

O realizador mexicano Guillermo del Toro, confesso admirador da personagem e de todo o Universo do cinema de terror, conquistou a confiança de Mike Mignola para trazer a personagem para o grande ecrã. É natural que essa confiança não tenha sido difícil de conquistar, uma vez que a popularidade da personagem iria aumentar e isso iria permitir, além de uma recompensa financeira pelos direitos de autor, a recompensa de poder continuar a expandir o Universo da personagem por muitos e bons anos, com uma total liberdade autoral – o que agora se pode confirmar nas inúmeras séries do Hellboy Verse.

Viajando até 2004, encontramos um cinema de super-heróis muito diferente do actual. Normalmente, o blockbuster deste género era concebido por realizadores que vinham da série B ou de géneros de nicho, focados na acção. Del Toro, dois anos antes, tinha assinado o excelente Blade II, uma sequela que, sendo superior ao original, o apresentava como o homem perfeito para trazer a criação de Mignola para o grande ecrã.

Curiosamente, este Hellboy é um filme de autor, mais de Del Toro do que de Mignola. No entanto, estruturalmente, neste filme temos uma inspiração em “Seed of Destruction” e “The Right Hand of Doom” – opto por não traduzir para não se perder a belíssima ambiguidade do título.

Ron Perlman é o Hellboy perfeito. Colaborador de longa data do realizador, Perlman consegue criar uma personagem muito cativante, divertida e que captura perfeitamente o espírito da personagem e do bom arquétipo do herói solitário que salva um Mundo que o teme – o argumento retira do actor tudo o que de bom ele poderia dar à personagem. Não esquecer Doug Jones e John Hurt, excelentes Abe Sapiens e Professor Bruttenholm.

Sempre me fascinaram as sequências pulp com a Segunda Guerra Mundial e os nazis em pano de fundo. Logo, a abertura do filme é um regalo para olhos e abre o filme com estrondo – o detalhe do projector é um daqueles toques que nos dizem que vamos ver algo especial. O nazi com facas, sem sangue e com um engenho que tem de rodar, mostra uma das imagens de marcas que Del Toro usa desde Cronos – os engenhos a corda, elevados ao extremo na sequela.

Essa abertura estrondosa continua de forma segura durante todo o filme. Torna-se interessante ver que o argumento de Del Toro insere one liners muito eficientes e com um deliver perfeito por parte de Perlman.

Tecnicamente o filme está excelente. Visto passados 15 anos, os efeitos visuais continuam muito bons e, ao contrário dos filmes de super-heróis actuais, a fotografia tem cores vibrantes, onde se destaca naturalmente o vermelho da personagem principal. O tema principal da personagem é eficaz e consegue captar a nossa atenção logo na apresentação dos créditos iniciais.

Guillermo del Toro nunca deixa de lado o tema da família freak como forma de fundir no mesmo Universo um excelente Abe Sapien e uma enigmática Liz Sherman. Essa família, separando-se visivelmente da visão de Mignola (o que será mais evidente no segundo filme), consegue dar ao filme um lado intimista que tanto falta aos filmes de super-heróis actuais. O Hellboy poderá ter na mão direita o futuro da Humanidade, mas o que nos prende definitivamente ao filme é o facto de também ter sempre no seu horizonte os destinos da freakalhada que Del Toro nos ensina a adorar.

Infelizmente o público não reagiu aos filmes na hora certa. Este filme foi pago com a venda de DVDs, tendo na altura saído uma excelente edição de realizador, com mais vinte minutos e R-Rated. No entanto, foi o suficiente para se ter feito uma sequela, esta já mais afastada do Hellboy de Mignola.

Resta ver como será o novo filme, um reboot que, pelas imagens do trailer e pela idade do Professor Trevor Bruttenholm, parece retirar a sua origem do trilho dos nazis. Vislumbram-se demónios a destruir cidades, o que sugere que o clima mais intimista do take de Del Toro será substituído por uma experiência que vai mais ao encontro do final do Mundo, tão em voga nos filmes recente da Marvel e DC.

Sendo este filme excelente, resta perguntar sobre o novo Hellboy, que agora estreou: “How big can it be?”.

*Fernando Dordio é um inveterado cinéfilo, leitor e argumentista de BD, tendo escrito “O Elixir da Eterna Juventude – Uma Dança no Mundo de Sérgio Godinho”, editado pela Kingpin Books.

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