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“Estava eu em tenra idade, algures entre os 6 e os 8, quando fui exposto a primeira vez à dureza e ao brilhantismo de “A Mina do Alemão Perdido” e “O Espectro das Balas de Ouro”, na saudosa Flecha2000. Foi o Tenente Blueberry que me apresentou a Jean Giraud, ou Gir, e mal sabia eu que, 20 anos mais tarde, a sua persona Moebius iria dinamitar-me o cérebro com o inigualável Incal, em parceria com o guru Jodorowsky.”

Por Mário Freitas, fundador e proprietário da Kingpin Books

2010

2010 foi um ano e pêras. Primeiro, estreou-se o Iberanime, que ainda hoje perdura saudável. Mais tarde, na San Diego Comic-Con, a Funko apresentava os primeiros modelos das figuras que iriam mudar tudo no mundo do coleccionismo. Para sempre, e neste caso o cliché é mesmo verdadeiro.

Mas o mais relevante foi sem dúvida a primeira edição do ANICOMICS LISBOA na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, um evento por nós organizado e que se viria a tornar muito especial no coração de centenas de fãs.

Sobre os Funko POP, escuso de acrescentar o que quer que seja; a história fala por si. Quanto ao AniComics…

Foi o primeiro de muitos anos. De muitas amizades. De muito esforço e, literalmente, de muito sangue, suor e lágrimas. Não posso nomear aqui todos, mas vocês sabem quem são.

2011

Em 2011, a DC Comics decide renumerar pela primeira vez a sua linha completa de títulos. Destacam-se Scott Snyder e Greg Capullo ao leme do Batman e da sua Corte das Corujas, e o regresso de Grant Morrison ao Super-Homem, a lidar com um Clark Kent ainda jovem em “Action Comics”.

2011 marca também o primeiro troféu editorial conquistado pela Kingpin Books, através de David Soares, vencedor do Prémio Nacional de BD para Melhor Argumento, atribuído pelo AmadoraBD, com o livro “O Pequeno Deus Cego”. Seria o primeiro de muitos.

Seguindo as pegadas da sua concorrente directa, a DC decide renumerar a sua linha inteira de comics em 2011, numa boa jogada de marketing com direito inclusive a um nome orelhudo, “The New 52!”.

Por cá, e depois de várias nomeações sem sucesso, o selo editorial da Kingpin Books conquista finalmente um prémio. É no AmadoraBD desse ano que David Soares recebe o Prémio Nacional de BD para Melhor Argumento, com o livro “O Pequeno Deus Cego”, belissimamente ilustrado pelo Pedro Serpa. Reza a história que, depois, muitos mais vieram.

2012

2012. O ano da morte de um dos maiores génios de sempre da BD mundial. E o ano em que o mexicano Tony Sandoval visitou Portugal pela 1ª vez, marcando presença nessa edição do AniComics.

Estava eu em tenra idade, algures entre os 6 e os 8, quando fui exposto a primeira vez à dureza e ao brilhantismo de “A Mina do Alemão Perdido” e “O Espectro das Balas de Ouro”, na saudosa Flecha2000. Foi o Tenente Blueberry que me apresentou a Jean Giraud, ou Gir, e mal sabia eu que, 20 anos mais tarde, a sua persona Moebius iria dinamitar-me o cérebro com o inigualável Incal, em parceria com o guru Jodorowsky.

2012 coincidiu também com a primeira vinda a Portugal do autor mexicano Tony Sandoval, que se tornou um bom amigo e de quem já editei cinco magníficos livros.

2013

Numa história surpreendentemente bem conseguida, Dan Slott substutui Peter Parker por Otto Octavius, numa troca de corpos e mentes como só um génio do mal à moda antiga poderia concretizar.

Por cá, 2013 foi o ano de “O Baile”, que venceu 6 Prémios Profissionais de BD (o precursor dos Galardões BD Comic Con) e 2 Prémios Nacionais AmadoraBD. Limpinho limpinho!

Se me dissessem que eu ia adorar uma saga enorme em que o Doctor Octopus (sim, aquele dos tentáculos e óculos à Zé Cid) transfere a mente para o corpo do Parker e se intitula “O Superior Homem-Aranha”, diria que estavam loucos. Porém, assim foi. Uma história bem planeada, bem pensada, bem concluída. Claramente a história “superior” de toda a fase escrita por Dan Slott.

Por estas bandas, superior também se mostrou “O Baile”, do Nuno Duarte e da Joana Afonso, que limpou as categorias principais dos PPBD e venceu depois outras duas no AmadoraBD, o de melhor álbum e melhor argumento. Isto num ano em que o Osvaldo Medina conquistou o prémio para melhor desenho no AmadoraBD com o meu “Super Pig: Roleta Nipónica”. Um ano editorial em cheio.

2014

2014 fica marcado indelevelmente pela 1ª edição da Comic Con Portugal. Um evento que veio redefinir a dimensão e o modo de fazer eventos no nosso país.

Concretizando uma ambição com alguns anos, a Kingpin Books edita “I Kill Giants”, de Joe Kelly e JM Ken Niimura, obra aclamada e premiada que viria a ser posteriormente adaptada ao cinema.

Depois da desconfiança inicial, a Comic Con Portugal cedo se tornou um fenómeno de massas. Quem pensaria que um evento de cultura POP em Portugal poderia vir a atingir os 100 mil visitantes?

Foi também em 2014 que traduzi e editei “Eu Mato Gigantes”. Um livro que li por volta de 2010 e que me marcou profundamente. E sobre qual logo disse “um dia vou editar isto em português”. E assim foi, contando para isso com a presença no AmadoraBD do artista e um grande senhor, o nipo-espanhol Ken Niimura.

2015

Em 2015, Jonathan Hickman pegou no nome clássico das “Guerras Secretas” e, de uma assentada, fechou ambas as sagas em que tinha trabalhado uns anos, Avengers e Fantastic Four.

Por cá, a antologia que editei em formato de bolso, “Crumbs”, foi premiada no AmadoraBD, um corolário lógico da reunião de tanta gente talentosa num único livro.

“Crumbs” foi talvez um dos projectos editoriais que mais gozo me deu fazer. Com a inestimável colaboração do meu querido André Oliveira, montámos várias equipas de respeito e conseguimos um pequeno grande livro que foi uma montra imensa do melhor que a BD portuguesa tem para oferecer. O melhor elogio que ouvi veio de um podcast inglês que conheceu o livro em Leeds e disse simplesmemte “os estilos são tão diversificados e o que é mais impressionante é que é TUDO bom”.

De resto, “Secret Wars” foi mais uma demonstração da capacidade impressionante que Jonathan Hickman tem de planear uma história a muito longo prazo. A viagem nem sempre é fácil, mas a chegada ao destino é sempre compensadora.

2016

Findo os “New 52”, a DC virou-se para nova estratégia de marketing, desta feita com “Rebirth”, com promessas do regresso de um certo Doutor azul, e com Tom King ao leme do Batman.

2016 foi também o ano em que o AniComics cresceu, ou tentou crescer, mudando-se para o renovado Fórum Lisboa, um espaço amplo e com valências que já faltavam à mítica Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro.

Tom King no Batman foi, provavelmente, e continua a ser, o ponto alto do “DC Rebirth”. Vejamos o que nos reserva a conclusão do Doomsday Clock.

Em 2016, o AniComics mudou de casa. O sítio anterior rebentava pelas costuras e urgia aumentar, e muito, a capacidade do espaço, para dar conforto e espaço aos visitantes. O Carlos Pedro continuava a superar-se, e todos os anos desenhava um cartaz ainda melhor que o anterior. Este seria o penúltimo.

2017

2017 marcou o centenário do nascimento de Jack Kirby, o “Rei dos Comics” e co-criador do Universo Marvel. Efeméride devidamente acompanhada por uma extensiva exposição no AmadoraBD.

Foi também o ano em que fomos pela 1ª vez nomeados e finalistas dos Eisner Retailer Awards. E o ano que ditou o fim do AniComics, após a sua 8ª edição. A evolução dos tempos foi impiedosa para com os eventos de pequena ou média dimensão.

Em 2017, mais do que um enorme prazer, foi uma honra ter sido o curador da exposição do centenário do nascimento de Jack Kirby, no AmadoraBD. Quem teve a oportunidade de me ouvir durante as visitas guidas, terá decerto percebido a minha enorme paixão pela obra do lendário criador de universos.

2017 foi um ano agridoce. Ao fim de 8 edições, percebi que o novo fôlego que queria dar ao AniComics não era afinal exequível. Não sou de desistir, mas não sou obstinado, ao contrário do que muitos possam pensar. E percebi que era o momento de parar. E fazê-lo com dignidade. Por outro lado, recebemos a nossa 1ª nomeação e estivemos depois entre os 5 finalistas dos Eisner Retailer Awards. Foi a primeira, mas não foi a última

2018

A contagem descrescente aproxima-se do fim. O ano da morte de Stan Lee, o pai mediático do Universo Marvel, cujo desaparecimento não passou despercebido a ninguém. E também de Steve Ditko, co-criador do Homem-Aranha e do Doutor Estranho, o vértice recluso do triunvirato que criou a “Casa das Ideias”.

Pelo nosso lado, foi o ano da grande mudança. Abril de 2018 marcou a inauguração do nosso espaço na Av. Almirante Reis 82-A. O tal que marca a diferença, o tal como há poucos assim.

Stan Lee morreu em 2018. Nuff said!, diria o antigo guionista, editor-chefe e presidente da Marvel. Sobre Ditko pouco se disse. Pouco se sabe. Deixou sempe a sua obra falar por si. e pouco mais. Quase nada mais.

Em 2018, dei um salto enorme, assumi o risco. Dirá o futuro se foi a decisão acertada. O presente, esse, ninguém o apaga: a loja da Almirante Reis 82-A é certamente ímpar. Um reflexo da minha visão, da minha paixão. E um espaço que é também ele um enorme obrigado colectivo a todos os que me têm acompanhado ao longo dos anos. E um santuário de boas vindas a todos os que virão depois.

2019

E terminou assim esta contagem. Esta viagem por 20 anos ricos. Por 20 anos de Kingpin Books. Em breve, noutro post, várias imagens da festa de 6 de Julho que celebrou a efeméride. Voltem sempre 😉

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